Simulado Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA | Administrador | 2019 pre-edital | Questão 308

Língua Portuguesa / Regência verbal e nominal


Se um cachorro “pensa” ou não, “tem consciência” ou
não, isso depende da definição escolhida. Algumas pessoas
não atribuirão “consciência” a criatura alguma que não seja ca-
paz de abstrair um conceito geral com base em fatos particula-
res e, a partir daí, aplicar o aparato da lógica formal de modo a
fazer inferências para além desses fatos. Outros conferem
“consciência” a criaturas que reconhecem seus parentes con-
sanguíneos e se recordam de locais prévios relacionados a si-
tuações de perigo ou de prazer. Pelo primeiro critério, os cães
não têm consciência; pelo segundo, têm. Mas os cães permane-
cem sendo cães e sentindo aquilo que sentem, sem levar em
consideração os rótulos escolhidos por nós.
No contexto dos esforços internacionais para conservar
a biodiversidade, essa questão assume uma importância cen-
tral, uma vez que o argumento clássico sobre os motivos pelos
quais uma criatura supostamente decente e moral como o
Homo sapiens pode maltratar e até mesmo exterminar outras
espécies se assenta sobre uma posição extrema num
continuum. A tradição cartesiana, formulada explicitamente no
século XVII, mas presente, sem dúvida, numa forma “popular”
ou em outras versões, ao longo de toda história humana, sus-
tenta que os outros animais são pouco mais que máquinas des-
providas de sentimentos e que apenas os homens gozam de
“consciência”, não importa como ela seja definida. Nas versões
radicais dessa teoria, até mesmo a dor e o sofrimento manifes-
tos de outros mamíferos (tão palpáveis para nós, e da maneira
mais visceral, uma vez que as expressões vocais e faciais des-
ses parentes evolutivos próximos são semelhantes às nossas
próprias reações aos mesmos estímulos) nada mais sinalizam
do que uma resposta automática sem nenhuma representação
interna em termos de sentimento − porque os outros animais
não têm consciência alguma. Assim, levando adiante esse argu-
mento, poderíamos nos preocupar com a extinção em função de
outras razões, mas não em virtude de alguma espécie de dor ou
sofrimento associado a essas mortes inevitáveis.
Não acredito que muitas pessoas sustentem nos dias de
hoje uma versão tão forte da posição cartesiana, mas a tradição
de se considerar os animais “inferiores” como “menos capazes
de sentir” certamente persiste como um paliativo que ajuda a
justificar nossa rapacidade − do mesmo modo como os nossos
ancestrais racistas argumentavam que os “insensíveis” índios
eram incapazes de experimentar alguma forma de dor concei-
tual ou filosófica pela perda de seu ambiente ou modo de vida
(desde que os territórios reservados suprissem suas neces-
sidades corporais de alimento e segurança), e que os “primiti-
vos” africanos não lamentariam a terra natal e a família abando-
nadas à força uma vez que a escravidão lhes assegurasse a
sobrevivência do ponto de vista físico. (Adaptado de: Stephen Jay Gould. A montanha de moluscos
de Leonardo da Vinci. Trad. de Rejane Rubino. S.Paulo: Cia.
das Letras, 2003. p.465-6)

Algumas pessoas não atribuirão “consciência” a criatura alguma...



O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o verbo grifado acima está em:

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Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - ÁREA JUDICIáRIA / TRT 18ª / 2013 / FCC