Simulado Ministério da Saúde | Administrador | 2019 pre-edital | Questão 328

Língua Portuguesa / Domínio da estrutura morfossintática do período / Colocação dos pronomes átonos


Fundada por Ptolomeu Filadelfo, no início do século III
a.C., a biblioteca de Alexandria representa uma epígrafe perfeita
para a discussão sobre a materialidade da comunicação. As
escavações para a localização da biblioteca, sem dúvida um dos
maiores tesouros da Antiguidade, atraíram inúmeras gerações de
arqueólogos. Inutilmente. Tratava-se então de uma biblioteca
imaginária, cujos livros talvez nunca tivessem existido? Persistiam,
contudo, numerosas fontes clássicas que descreviam o lugar em que
se encontravam centenas de milhares de rolos. E eis a solução do
enigma. O acervo da biblioteca de Alexandria era composto por
rolos e não por livros — pressuposição por certo ingênua, ou seja,
atribuição anacrônica de nossa materialidade para épocas diversas.
Em vez de um conjunto de salas com estantes dispostas
paralelamente e enfeixadas em um edifício próprio, a biblioteca de
Alexandria consistia em uma série infinita de estantes escavadas nas
paredes da tumba de Ramsés. Ora, mas não era essa a melhor forma
de colecionar rolos, preservando-os contra as intempéries? Os
arqueólogos que passaram anos sem encontrar a biblioteca de
Alexandria sempre a tiveram diante dos olhos, mesmo ao alcance
das mãos. No entanto, jamais poderiam localizá-la, já que não
levaram em consideração a materialidade dos meios de comunicação
dominante na época: eles, na verdade, procuravam uma biblioteca
estruturada para colecionar livros e não rolos. Quantas bibliotecas
de Alexandria permanecem ignoradas devido à negligência com a
materialidade dos meios de comunicação?
O conceito de materialidade da comunicação supõe a
reconstrução da materialidade específica mediante a qual os valores
de uma cultura são, de um lado, produzidos e, de outro,
transmitidos. Tal materialidade envolve tanto o meio de
comunicação quanto as instituições responsáveis pela reprodução da
cultura e, em um sentido amplo, inclui as relações entre meio de
comunicação, instituições e hábitos mentais de uma época
determinada. Vejamos: para o entendimento de uma forma particular
de comunicação — por exemplo, o teatro na Grécia clássica ou na
Inglaterra elizabetana; o romance nos séculos XVIII e XIX; o
cinema e a televisão no século XX; o computador em nossos dias
—, o estudioso deve reconstruir tanto as condições históricas quanto
a materialidade do meio de comunicação. Assim, no teatro, a voz e
o corpo do ator constituem uma materialidade muito diferente da
que será criada pelo advento e difusão da imprensa, pois os tipos
impressos tendem, ao contrário, a excluir o corpo do circuito
comunicativo. Já os meios audiovisuais e informáticos promovem
um certo retorno do corpo, mas sob o signo da virtualidade.
Compreender, portanto, como tais materialidades influem na
elaboração do ato comunicativo é fundamental para se entender
como chegam a interferir na própria ordenação da sociedade. João C. de C. Rocha. A matéria da materialidade: como localizar a biblioteca de
Alexandria? In: João C. de C. Rocha (Org.). Interseções: a materialidade da
comunicação. Rio de Janeiro: Imago; EDUERJ, 1998, p. 12, 14-15 (com adaptações).

Com relação às estruturas linguísticas do texto, julgue os itens
seguintes.

O trecho “jamais poderiam localizá-la” (L.20) poderia ser
corretamente reescrito da seguinte forma: jamais a
poderiam localizar.

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Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - ÁREA JUDICIáRIA / STJ / 2012 / CESPE