Simulado Polícia Civil do Ceará - PCCE | Escrivão de Polícia | 2019 pre-edital | Questão 251

Língua Portuguesa / Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários)


A pátria de ponteiros Numa demonstração de inequívoca coragem, Fritz pediu
uma feijoada. Eu comentei que, aparentemente, ele não estava
tendo dificuldades de adaptação. O alemão disse que não.
Por conta do seu trabalho, viajava o mundo todo. A única
coisa que lhe incomodava, no Brasil, era nunca saber quando
as pessoas chegariam aos encontros. “O pessoa manda mensa-
gem, diz ‘tô chegando!’, mas pessoa chega só quarrrenta mi-
nutos depois”. Então me fez a pergunta que só poderia vir de
um compatriota de Emanuel Kant*: “Quando a brrrasileirrro diz
‘tô chegando!’, em quanto tempo brrrrasileirrro chega?”.
Pensei em mentir, em dizer que uns atrasam, mas outros apa-
recem rapidinho. Achei, porém, que em nome de nossa dignida-
de – ali, naquela mesa, eu era a “pátria de ponteiros” – o melhor
seria falar a verdade: “Fritz, é assim: quando o brasileiro diz
‘tô chegando!’ é porque, na real, ele tá saindo”. Tentei atenuar o
assombro do alemão: veja, não é exatamente mentira, afinal, ao
pôr o pé pra fora de casa dá-se início ao processo de chegada,
assim como ao sair do útero se começa a caminhar para a cova.
É só uma questão de perspectiva.
“Mas e quando o pessoa diz ‘tô saindo!’?” Expliquei que as
declarações do brasileiro, no que tange ao atraso, estão sempre
uma etapa à frente da realidade. Se a pessoa diz que está che-
gando, é porque tá saindo, e se diz que tá saindo, é porque ainda
precisa tomar banho, tirar a roupa da máquina e botar comida
pro cachorro.
Fritz ficou pensativo. “E o ‘cinco minutinhos’?”
Já o “cinco minutinhos!” é um pouco mais vago. Pode signi-
ficar tanto que o brasileiro está a cem metros do destino quanto
a 27 quilômetros. Às vezes, cinco minutinhos demoram muito
mais do que quinze, mais do que uma hora; há casos, até, em que
a pessoa a cinco minutinhos jamais aparece.
Fritz ficou olhando o chope, imaginando, talvez, na espuma
branca, a tomografia multicolor desses cérebros tropicais. Senti
que era o momento de mudar de assunto, de mostrar ressonân-
cias, digamos, mais magnéticas do nosso país. Chamei o gar-
çom. “Chefe, a gente pediu uma feijoada, já faz um tempinho...”
“Tá chegando, amigo, tá chegando!” (Antonio Prata. Folha de S.Paulo, 23.02.2014. Adaptado)


* Emanuel Kant: filósofo de origem alemã

Com base no último parágrafo e na sua relação com o texto,
pode-se concluir corretamente que

Voltar à pagina de tópicos Próxima

Fonte: TéCNICO DE TECNOLOGIA DA INFORMAçãO - INFRAESTRUTURA/ OPERAçãO / PRODEST/ES / 2014 / VUNESP