Simulado Polícia Civil do Ceará - PCCE | Inspetor de Polícia | 2019 pre-edital | Questão 210

Língua Portuguesa / Classes de palavras / Pronome




Quando algumas pessoas que só acompanham meu trabalho
como jornalista cultural sabem que admiro, pratico e comento
futebol, isso sem falar de quando declaro o time para o qual
torço, soltam frases como “Isso não é importante”, “Que per-
da de tempo” ou “Todo mundo tem seu lado irracional”. São
frases engraçadamente preconceituosas. Sugerem que os livros
e as artes são sempre importantes, nunca desperdiçam nosso
tempo e agem como veículos da nossa razão. E está claro que
não é assim... E sugerem, por outro lado, que do futebol nada
se aprende. Bem, muitos intelectuais aprenderam dele, como
de outros esportes, e eu digo sempre que o futebol me ensinou
mais sobre o Brasil do que muitos livros de história. Também
me ensinou sobre a natureza humana.
Concordo que o futebol não é “importante”; mais ainda,
que as pessoas lhe dão muita importância, desde o torcedor que
briga com a mulher ou com o vizinho porque o time perdeu até
o professor que decide defender a tese de que um time de 11
marmanjos de calções serve como modelo para o que uma nação
deve fazer com sua economia, educação, etc. Mas o futebol tem
importância por mexer com outras dimensões da nossa natureza,
como o instinto de competição física e a inclinação para o ritual
simbólico. Como ao ler as lendas da mitologia ou os romances
de aventura, projetamos no futebol um gosto pela façanha, uma
curiosidade sobre o limite. Viver é mover.
Se 2 bilhões de pessoas param para ver uma final de Copa
do Mundo, um observador cultural não pode ficar indiferente
a isso. Logo, ver algo que me dá prazer como simulação de
nossas possibilidades motoras e lúdicas, não precisa ser perda
de tempo. (...)
Sobre o lado irracional, uma das coisas que o futebol mostra
é que racionalidade e irracionalidade não são duas instâncias
lado a lado, mas que se mesclam e muitas vezes com resulta-
dos positivos. O que Pelé fazia em campo podia partir de uma
memória corporal vinda desde as brincadeiras de infância – e
quantos prazeres da vida não têm a mesma relação com o jogo?
– e, no entanto, era produto de um trabalho mental, consciente,
forjado em tentativa e erro, repetidas vezes. O craque não é o
que pensa mais rápido e, assim, aplica o que faz com a bola
dentro da narrativa da partida. Como nas artes, na política ou na
paquera, o grande segredo mora no “timing”. É preciso ensaiar
para não fazer em campo apenas as jogadas ensaiadas. (Daniel Piza, O Estado de S.Paulo, 13.06.2010. Adaptado)
Mas o futebol tem importância por mexer com outras di-
mensões da nossa natureza, como o instinto de competição física
e a inclinação para o ritual simbólico. Como ao ler as lendas da
mitologia ou os romances de aventura, projetamos no futebol
um gosto pela façanha, uma curiosidade sobre o limite.

Na frase ... projetamos no futebol um gosto pela façanha... a expressão um gosto pela façanha está corretamente substituída, de acordo com a norma culta, por um pronome pessoal, em

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Fonte: ESCREVENTE TéCNICO JUDICIáRIO / TJ/SP / 2010 / VUNESP