Simulado Procuradoria-Geral do Distrito Federal - PGDF | Técnico Jurídico - Apoio Administrativo | 2020 | Questão 40

Língua Portuguesa / Domínio da estrutura morfossintática do período / Emprego das classes de palavras


Texto 12A1AAA — A polícia parisiense — disse ele — é extremamente
hábil à sua maneira. Seus agentes são perseverantes,
engenhosos, astutos e perfeitamente versados nos
conhecimentos que seus deveres parecem exigir de modo
especial. Assim, quando o delegado G... nos contou,
pormenorizadamente, a maneira pela qual realizou suas
pesquisas no Hotel D..., não tive dúvida de que efetuara
uma investigação satisfatória (...) até o ponto a que chegou
o seu trabalho.
— Até o ponto a que chegou o seu trabalho? —
perguntei.
— Sim — respondeu Dupin. — As medidas adotadas
não foram apenas as melhores que poderiam ser tomadas, mas
realizadas com absoluta perfeição. Se a carta estivesse
depositada dentro do raio de suas investigações, esses rapazes,
sem dúvida, a teriam encontrado.
Ri, simplesmente — mas ele parecia haver dito tudo
aquilo com a máxima seriedade.
— As medidas, pois — prosseguiu —, eram boas em
seu gênero, e foram bem executadas: seu defeito residia em
serem inaplicáveis ao caso e ao homem em questão. Um certo
conjunto de recursos altamente engenhosos é, para o delegado,
uma espécie de leito de Procusto, ao qual procura adaptar à
força todos os seus planos. Mas, no caso em apreço, cometeu
uma série de erros, por ser demasiado profundo ou demasiado
superficial. (...) E, se o delegado e toda a sua corte têm
cometido tantos enganos, isso se deve (...) a uma apreciação
inexata, ou melhor, a uma não apreciação da inteligência
daqueles com quem se metem. Consideram engenhosas apenas
as suas próprias ideias e, ao procurar alguma coisa que se ache
escondida, não pensam senão nos meios que eles próprios
teriam empregado para escondê-la. Estão certos apenas num
ponto: naquele em que sua engenhosidade representa fielmente
a da massa; mas, quando a astúcia do malfeitor é diferente da
deles, o malfeitor, naturalmente, os engana. Isso sempre
acontece quando a astúcia deste último está acima da deles e,
muito frequentemente, quando está abaixo. Não variam seu
sistema de investigação; na melhor das hipóteses, quando são
instigados por algum caso insólito, ou por alguma recompensa
extraordinária, ampliam ou exageram os seus modos de agir
habituais, sem que se afastem, no entanto, de seus princípios.
(...) Você compreenderá, agora, o que eu queria dizer ao
afirmar que, se a carta roubada tivesse sido escondida dentro
do raio de investigação do nosso delegado — ou, em outras
palavras, se o princípio inspirador estivesse compreendido nos
princípios do delegado —, sua descoberta seria uma questão
inteiramente fora de dúvida. Este funcionário, porém, se
enganou por completo, e a fonte remota de seu fracasso reside
na suposição de que o ministro é um idiota, pois adquiriu
renome de poeta. Segundo o delegado, todos os poetas são
idiotas — e, neste caso, ele é apenas culpado de uma non
distributio medii, ao inferir que todos os poetas são idiotas.
— Mas ele é realmente poeta? — perguntei. — Sei
que são dois irmãos, e que ambos adquiriram renome nas
letras. O ministro, creio eu, escreveu eruditamente sobre o
cálculo diferencial. É um matemático, e não um poeta.
— Você está enganado. Conheço-o bem. E ambas as
coisas. Como poeta e matemático, raciocinaria bem; como
mero matemático, não raciocinaria de modo algum, e ficaria,
assim, à mercê do delegado.
— Você me surpreende — respondi — com essas
opiniões, que têm sido desmentidas pela voz do mundo.
Naturalmente, não quererá destruir, de um golpe, ideias
amadurecidas durante tantos séculos. A razão matemática é há
muito considerada como a razão par excellence. Edgar Allan Poe. A carta roubada. In: Histórias extraordinárias. Victor
Civita, 1981. Tradução de Brenno Silveira e outros.

Julgue os seguintes itens, relativos aos sentidos e aos aspectos
linguísticos do texto 12A1AAA.

No trecho “ao procurar alguma coisa que se ache escondida”
(R. 30 e 31), o pronome “que” exerce a função de complemento
da forma verbal “ache”.

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Fonte: AGENTE / Polícia Federal / 2018 / CESPE