Simulado Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania de Roraima - SEJUC/RR | Agente Penitenciário | 2020 | Questão 184

Língua Portuguesa / Acentuação gráfica


O cortador de piada Contar piada é uma arte. Há o contador
minucioso, que entra em detalhes, sai do trilho e,
quando menos se espera, volta para o arremate,
normalmente rindo mais do que quem ouve a
história pela primeira vez; há o conciso, que usa
poucas frases e normalmente é cortante,
frequentemente maldoso; o histriônico, que muda
a voz, se levanta, interpreta e exagera, o
pornográfico, que acha palavrão engraçado, o
verborrágico, que emenda uma piada na outra,
entre muitos outros.
Toda boa roda de botequim tem que ter algum
contador de anedota de repertório amplo, memória
prodigiosa e paciência. Ainda mais se de vez em
quando aparecer na conversa um outro
personagem, o cortador de piada. Sim; um conta,
o outro corta, normalmente se introduzindo na
história alheia, estragando o final.
Toda boa piada tem seu clímax no final. Não
é como um conto, uma narrativa, um cordel ou até
mesmo um ‘causo’, quando a graça, muitas vezes,
está no desenvolvimento da ação. O fecho da
piada tem que ser surpreendente, definitivo, deve
conter toda graça em poucas palavras que muitas
vezes torcem a lógica exposta anteriormente.
O cortador de piada é também conhecido
como o chato. Por mais velho que seja o chiste, é
preciso respeitar o contador, ainda que não seja
dos mais cativantes, que não tenha o brilho e a
graça de um Chico Anísio. O cortador muitas
vezes interrompe a narrativa sem a menor
cerimônia, com aquela inocência insuportável dos
enjoados — o chato de verdade nunca é
proposital; é um traço de caráter inato, o que só
piora a situação.
Mas há situações piores, quando o chato se
transforma no ladrão de piada. Também querendo
dominar o ambiente, o ladino se apodera da
história alheia e conta o final, deixando o dono da
anedota com a boca aberta e sem ter o que dizer.
Foi o que aconteceu, não faz muito tempo, num
famoso boteco da W2 Sul — ou melhor, famoso
para nós, frequentadores, já que não sai nas
colunas de jornal.
A noite ainda era juvenil, mas aquela turma
dava impressão de estar por ali desde o café da
manhã, tamanha a animação. Cascos vazios de
cerveja já tinham enchido um engradado e já eram
colocados com a boca para baixo, entre os outros.
Um dos rapazes começou a contar uma piada
comprida e que era constantemente interrompida
por comentários diversos por outro sujeito.
Havia interessados na narrativa, até porque é
uma piada sobre advogados, e os causídicos são
fregueses habituais do estabelecimento. O chato
não sossegava, queria ser o centro das atenções
e diante de tantos ‘psius’ pedindo silêncio,
disparou:
— Que tatu? Não vi nenhum tatu por aqui!
E se contorcia como o Orlando Furioso, da
ópera de Vivaldi. Ele havia contado o fim da piada
numa cena que só pode ser explicada pelo alto
nível etílico daquela mesa, quando o tempo fechou
como uma final com Grenal. Até hoje tem gente
querendo saber como a piada chegaria ao tatu,
mas tem medo de perguntar. Adaptado de: http://df.divirtasemais.com.br/app/noticia/mais-
leitor/2019/12/06/noticia-mais-leitor,162065/cronica-o-cortador-de-
piada.shtml. Acesso em: 10 dez. 2019.

Assinale a alternativa em que as palavras
sejam acentuadas graficamente
seguindo a mesma regra.

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Fonte: TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS / Pref. Cariacica/ES / 2020 / AOCP