Simulado Senado Federal | Técnico Legislativo - Processo Legislativo | 2019 pre-edital | Questão 160

Língua Portuguesa / Variedades de texto e adequação de linguagem


Não éramos cordiais? A morte do cinegrafista Santiago Andrade não configura um
atentado à liberdade de imprensa, ao contrário do que tantos
apregoam.
É muito pior que isso: é um atentado ao convívio civilizado
entre brasileiros, um degrau a mais na escalada impressionante
de violência que está empurrando o país para um teor ainda mais
exacerbado de barbárie.
O incidente com o cinegrafista é parte de uma coreografia de
violência crescente que se dá por onde quer que se olhe.
Nunca se matou com tanta facilidade em assaltos. Nunca se
apertou o gatilho com tanta facilidade. É até curioso que as
estatísticas policiais no Estado de São Paulo apontem uma
redução no número de homicídios dolosos, como se fosse um
avanço, quando aumenta o número de vítimas de latrocínio, que
não passa de homicídio precedido de roubo.
De fato, em 2013, o número de latrocínios (379) foi o mais
alto em nove anos, com aumento de 10% em relação aos 344
casos do ano anterior.
Mas a violência não é um fenômeno restrito à criminalidade.
A polícia age muitas vezes com uma violência desproporcional.
A vida nas cidades e, cada vez mais, no interior, é de uma
violência inacreditável. O trânsito é uma violência contra a mente
humana. O transporte público violenta dia após dia. Não é um
atentado aos direitos humanos perder às vezes três horas entre ir
e voltar do trabalho?
A saúde é uma violência contra o usuário. A educação violenta,
pela sua baixa qualidade, o natural anseio de ascensão social.
A existência de moradias em zonas de risco é outra violência.
A contaminação do ar mata ou fere de maneira invisível os
habitantes das cidades em que o nível de poluição supera o
mínimo tolerável.
Não adianta, agora, culpar o governo do PT ou a suposta
herança maldita legada pelo PSDB, ou os crimes praticados pela
ditadura militar ou a turbulência que precedeu o golpe de 1964.
O país foi sendo construído de maneira torta, irresponsável, sem
o mais leve sinal de planejamento, de preparação para o futuro.
Acumularam-se violências em todas as áreas de vida.
A explosão no consumo de drogas exacerbou, por sua vez, a
violência da criminalidade comum. Não há “coitadinhos” nessa
história. Há delinquentes e vítimas e há a incompetência do
poder público.
É como escreveu, para Carta Capital, esse impecável
humanista chamado Luiz Gonzaga Belluzzo:
“O descumprimento do dever de punir pelo ente público
termina por solapar a solidariedade que cimenta a vida civilizada,
lançando a sociedade no desamparo e na violência sem quartel”.
Antes que o desamparo e a violência sem quartel se tornem
completamente descontrolados, seria desejável o surgimento de
lideranças capazes de pensar na coisa pública, em vez de se
dedicarem a seus interesses pessoais, mesmo os legítimos.
Alguém precisa aparecer com um projeto de país, em vez de
projetos de poder. Não é por acaso que 60% dos brasileiros
querem mudanças, ainda que não as definam claramente.
A encruzilhada agora é entre ideias e rojões. (Clovis Rossi, Folha de São Paulo, 13/02/2014)

“‘O descumprimento do dever de punir pelo ente público termina
por solapar a solidariedade que cimenta a vida civilizada,
lançando a sociedade no desamparo e na violência sem quartel’”.



A linguagem empregada nesse segmento do texto deve ser
caracterizada como

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Fonte: TéCNICO DE NíVEL MéDIO - ADMINISTRATIVA / ALBA / 2014 / FGV