Simulado Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo - TRE/SP | Analista Judiciário - Área Judiciária | 2019 pre-edital | Questão 900

Português / Sintaxe da oração e do período


O processo impregnado de complexidade, ao qual se
sobrepõem ideias de avanço ou expansão intensamente ideolo-
gizadas, e que convencionamos chamar pelo nome de progres-
so, tem, dentre outros, um atributo característico: tornar a
organização da vida cada vez mais tortuosa, ao invés de simpli-
ficá-la. Progredir é, em certos casos, sinônimo de complicar. Os
aparelhos, os sinais, as linguagens e os sons gradativamente
incorporados à vida consomem a atenção, os gestos, a capa-
cidade de entender. Além disso, do manual de instruções de um
aparelho eletrônico à numeração das linhas de ônibus, passan-
do pelo desenho das vias urbanas, pelos impostos escorchan-
tes e pelas regras que somos obrigados a obedecer – inclusive
nos atos mais simples, como o de andar a pé −, há uma evi-
dente arbitrariedade, às vezes melíflua, às vezes violenta, que
se insinua no cotidiano.
Não há espaço melhor para averiguarmos as informa-
ções acima do que os principais centros urbanos. Na opinião do
geógrafo Milton Santos, um marxista romântico, “a cidade é o
lugar em que o mundo se move mais; e os homens também. A
co-presença ensina aos homens a diferença. Por isso, a cidade
é o lugar da educação e da reeducação. Quanto maior a cidade,
mais numeroso e significativo o movimento, mais vasta e densa
a co-presença e também maiores as lições de aprendizado”.
Essa linha de pensamento, contudo, não é seguida por
nós, os realistas, entre os quais se inclui o narrador de O silen-
ceiro, escrito pelo argentino Antonio di Benedetto. Para nós, o
progresso transformou as cidades em confusas aglomerações,
nas quais a opressão viceja. O narrador-personagem do roman-
ce de Di Benedetto anseia desesperadamente pelo silêncio. Os
barulhos, elementos inextricáveis da cidade, intrometem-se no
cotidiano desse homem, ganhando existência própria. E a pró-
pria espera do barulho, sua antevisão, a certeza de que ele se
repetirá, despedaça o narrador. À medida que o barulho deixa
de ser exceção para se tornar a norma irrevogável, fracassam
todas as soluções possíveis.
A cidade conspira contra o homem. As derivações da
tecnologia fugiram, há muito, do nosso controle. (Adaptado de: GURGEL, Rodrigo. Crítica, literatura e narrato-
fobia. Campinas, Vide Editorial, 2015, p. 121-125)

E a própria espera do barulho (...) despedaça o narrador.



O verbo que possui, no contexto, o mesmo tipo de complemento do grifado acima está em:

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Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA / TRT 23ª / 2016 / FCC