Simulado Tribunal Regional do Trabalho - 3ª Região (MG) | Analista Judiciário - Contabilidade | 2019 pre-edital | Questão 332

Português / Pontuação


Quando se olha para o que aconteceu no cenário cultu-
ral brasileiro durante a última década e meia, não há como es-
capar do impacto da tecnologia. Ela possibilitou a reorganização
dos universos da música, dos filmes e dos livros. Motivou igual-
mente o surgimento das mídias sociais e das megaempresas
que as gerenciam, além de democratizar e ampliar a produção
em todas as áreas. Nunca se produziu tanto como agora.
As inovações tecnológicas modificaram completamente o
debate sobre cultura, trazendo, para os próximos anos, ao
menos três questões centrais. A primeira é a tensão entre as
formas ampliadas de criatividade e os contornos cada vez mais
restritos dos direitos autorais. Com a tecnologia, gerou-se um
contingente maciço de novos produtores de conteúdo. Isso faz
com que os limites do que chamamos “cultura” fiquem perma-
nentemente sujeitos a contínuas “invasões bárbaras”, vindas
dos recantos mais inusitados. Vez por outra, alguns casos sim-
bólicos extraem essas tensões do cotidiano no qual elas
ocorrem e as colocam num contexto jurídico, em que uma de-
cisão precisa ser tomada.
O outro tema é o permanente conflito entre passado e
futuro, exacerbado pela atual revolução tecnológica. Em seu li-
vro mais recente, Retromania, o escritor e crítico inglês Simon
Reynolds afirma que nosso atual uso da tecnologia, em vez de
apontar novos caminhos estéticos, está criando um generaliza-
do pastiche do passado. Vivemos num mundo onde todo legado
cultural está acessível a apenas um clique. Uma das respostas
inteligentes à provocação de Reynolds vem dos proponentes da
chamada “nova estética”, como o designer inglês James Bridle:
para eles, mesmo sem perceber com clareza, estamos desen-
volvendo novos modos de representar a realidade, em que o
“real” mistura-se cada vez mais a sucessivas camadas virtuais.
O mundo está cheio de novidades. É só reeducar o olhar para
enxergá-las, algo que Reynolds ainda não teria feito.
A tese de Reynolds abre caminho para o terceiro ponto.
Na medida em que “terceirizamos” nossa memória para as
redes em que estamos conectados (a nuvem), ignoramos o
quanto o suporte digital é efêmero. Não existe museu nem ar-
quivo para conservar essas memórias coletivas. Artefatos digi-
tais culturais se evaporam o tempo todo e se perdem para sem-
pre: são deletados, ficam obsoletos ou tornam-se simplesmente
inacessíveis. Apesar de muita gente torcer o nariz à menção do
Orkut, a “velha” rede social é talvez o mais rico e detalhado do-
cumento do período 2004-2011 no Brasil, já que registrou em
suas infinitas comunidades a ascensão da classe C e a pro-
gressão da inclusão digital. No entanto, basta uma decisão do
Google para tudo ficar inalcançável. (Adaptado de Ronaldo Lemos. Bravo! outubro de 2012, edição
especial de aniversário, p. 26)

O segmento introduzido pelos dois-pontos, no 3º parágrafo,

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Fonte: TéCNICO JUDICIáRIO - ÁREA APOIO ESPECIALIZADO/ESPECIALIDADE CONTABILIDADE / TRF 4ª / 2014 / FCC