Simulado Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo - TJSP | Escrevente Técnico Judiciário | 2019 pre-edital | Questão 202

Língua Portuguesa / Classes de palavras: emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem / Substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção


Nero e a lira O Brasil ficou chocado com o incêndio do Museu Nacional
no Rio de Janeiro. Só diante das chamas terríveis e do patri-
mônio desaparecido para sempre que alguns perceberam que
nunca tinham ido ao espaço museológico agora perdido. Eu já
tinha escrito o mesmo sobre os riscos da nossa Biblioteca Na-
cional e do seu acervo inestimável em condições de risco simi-
lar. Aqui em São Paulo, é o caso do Museu do Ipiranga, fechado
há tanto tempo. Perde o público, perde a cultura e empobrece-
mos em um campo já abalado da memória. Até quando? O que
mais precisaria queimar no Brasil, para que a gente percebesse
que patrimônio é algo que se vai para sempre?
O descaso tem precedentes terríveis. Em 1978, um con-
junto inestimável de quadros virou cinzas no Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro. Patrimônio científico foi carbo-
nizado várias vezes: a coleção do Instituto Butantã em São
Paulo e do Museu de Ciências Naturais da PUC de Minas
Gerais. Coleções insubstituíveis torraram por completo. O
Museu da Língua Portuguesa ardeu em chamas, como tam-
bém a tapeçaria de Tomie Ohtake no Memorial da América
Latina: somos o país que usa cultura como material de com-
bustão. Nenhum Nero foi indiciado, ninguém responde, nada
se faz com tantos e repetidos avisos trágicos. É uma política
de terra arrasada, de resultados eficazes e criminosos.
Mesmo aquilo que funciona e bem corre o risco do de-
samparo. A Sala São Paulo enche de orgulho os paulistas e
brasileiros. A Osesp é uma joia esculpida com trabalho, ta-
lento e muito sacrifício. Manter algo do padrão da Osesp e
da Sala São Paulo em um país como o Brasil é quase um
milagre. A qualidade material da sala, o esforço de todos e
a educação de um público fiel. Por ela passa a fina flor da
música brasileira e internacional.
A cultura brasileira é assim. Muita coisa queimou, pro-
jetos sobreviveram em estado precário, e todos aguardam
poderes sensíveis ao papel insubstituível da cultura na defi-
nição da cidadania. Quando eu vejo o montante do fundo

partidário em comparação ao estado precário de orques-
tras e museus, sou percorrido por uma dor muito forte.
O que mais terá de silenciar, queimar, desaparecer ou
ficar no passado até que acordemos? Quantos artistas deixa-
rão de comunicar seu talento com uma sociedade que neces-
sita desesperadamente de criação e sensibilidade para pen-
sar mais alto e melhor? Alguém aqui acha coincidência que
a economia mais forte da Europa, a Alemanha, também seja
uma terra de forte investimento privado e público na música
e nas artes? O que mais precisa desaparecer para sempre,
para que governos e eleitores descubram o valor do nosso
patrimônio material e imaterial?
Para nós, pessoas sem poder, resta prestigiar o que ain-
da existe, visitar mais nossos museus, cobrar dos políticos
que elegemos há pouco e valorizar com alunos e filhos os
muitos heróis de uma resistência cultural. (Leandro Karnal. O Estado de S.Paulo. 18.11. 2018. Adaptado)

Observe as frases seguintes:


•   O Museu da Língua  Portuguesa ardeu em chamas.

•   Manter o padrão da Sala São Paulo em um país como 
o Brasil é quase um milagre.


A preposição “em” nessas frases assume, respectivamente, valor de

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Fonte: TéCNICO LEGISLATIVO / Câmara de Serrana/SP / 2019 / VUNESP