Simulado Câmara Municipal de Belo Horizonte - CMBH | Técnico Legislativo II | 2019 pre-edital | Questão 55

Língua Portuguesa / Conhecimento da língua / Pontuação


As famílias da sociedade órfã A família transformou-se em bode expiatório das mazelas de nossa sociedade. Crianças se descontrolam, brigam,
desobedecem? Jovens fazem algazarras, bebem em demasia, usam drogas ilegais, namoram escandalosamente em
espaços públicos? Faltou educação de berço. Como é bom ter uma “Geni” para nela atirar todas as pedras,
principalmente quando se trata dos mais novos.
Até o Secretário Estadual da Educação de São Paulo, em um artigo de sua autoria, para defender sua tese de que
estamos vivendo em uma “sociedade órfã”, inicia suas justificativas afirmando que “... a fragmentação da família, a
perda de importância da figura paterna – e também a materna – a irrelevância da Igreja e da Escola em múltiplos
ambientes geram um convívio amorfo”.
As escolas também costumam agir assim: quando um aluno é considerado problemático e indisciplinado, ou
apresenta um ritmo de aprendizagem diferente do esperado pela instituição, a família é chamada para resolver o
“problema”.
Vamos refletir sobre expressões usadas a respeito da família: “família fragmentada”, “família desestruturada”,
“família disfuncional”, “família sem valores” e outras semelhantes. Não lhe parece, caro leitor, que tais expressões
apontam na direção de que a família decidiu entornar o caldo da sociedade?
Não é a família que está fragmentada: é a vida. Hoje, os tratamentos médicos, o conhecimento, as metodologias, as
relações interpessoais, as escolas, o Estado etc. estão fragmentados. Mesmo não sendo a família um agente passivo
nesse contexto, é salutar lembrar que ela se desenvolve conectada ao clima sociocultural em que vive.
A família não está desestruturada ou disfuncional: ela passa por um período de transição, com sucessivas e intensas
mudanças, o que provoca uma redefinição de papéis e funções. Esse processo está em andamento, o que nos permite
falar, hoje, não em família, mas em famílias, no plural, já que há grande diversidade de desenhos, dinâmicas etc.
As famílias não estão sem valores: elas têm valores fortes, em sua maioria eleitos pelas prioridades que a sociedade
determina. O consumo é um deles: as famílias não decidiram consumir cada vez mais, foi o sistema econômico que
apontou esse valor para elas.
Há problemas com a escola, sim: ela tem ensinado sem educar devido, principalmente, à primazia do conteúdo –
que insisto em dizer que não é conhecimento –, às políticas públicas adotadas e à ausência de outras, prioritárias. Por
isso, a escola tem tido um papel irrelevante na formação dos mais novos.
Há famílias em situações de risco e fragilidade? Há. A escola perdeu sua importância na socialização de crianças e
jovens? Sim. Mães e pais podem estar mais ocupados com suas vidas do que com os filhos? Sim. Mas isso ocorre porque
as ideologias socioculturais da juventude, do sucesso e da instantaneidade ganharam grande relevância, e não há
políticas públicas – de novo – que busquem equilibrar tal contexto. E, mesmo assim, têm sido as famílias a instituição
protetora dos mais novos!
A sociedade não precisa, tampouco demanda, que o Estado exerça a função de babá, de pai ou de mãe. Ela
necessita que o Estado reconheça, na prática, que as famílias e a escola dependem de ações públicas de apoio ao seu
pleno desenvolvimento e que garantam os seus direitos. (Rosely Saião. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2016/04/1759920-as-familias-da-sociedade-orfa.shtml.)

“Não lhe parece, caro leitor, que tais expressões apontam na direção de que a família decidiu entornar o caldo da sociedade?” (4º§) O trecho sublinhado apresenta-se entre vírgulas porque trata-se de

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Fonte: TéCNICO EM ENFERMAGEM / Pref. Cascavel/PR / 2016 / CONSULPLAN