Simulado Departamento de Polícia Federal - DPF | Escrivão de Polícia Federal | 2019 pre-edital | Questão 419

Língua Portuguesa / Domínio da estrutura morfossintática do período / Concordância verbal e nominal


O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o
animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade
está um dos mais importantes alertas contra o risco de cairmos
na monotonia existencial, na redundância afetiva e na
indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que
a condição humana perde substância e energia vital toda vez
que o ser humano se sente plenamente confortável com a
maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do
repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a
satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa
margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a
persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma,
limita, amortece.
“Nascer sabendo” é uma limitação porque obriga a
apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar.
Quanto mais nasce pronto, mais refém alguém se torna do que
já sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais
impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por
serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Um bom livro não é aquele que, quando encerramos
sua leitura, deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e
distantes, pensando que não queríamos que terminasse? Uma
boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia
não é aquela que queremos que se prolongue?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de
ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados.
Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se
terminado e constrangido ao possível da condição do momento.
Diante dessa realidade, deve-se questionar a ideia de
que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que
alguém quanto mais vivesse mais velho ficasse, teria de ter
nascido pronto e ir se gastando...
Isso não ocorre com gente, e, sim, com fogão, sapato,
geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente
nasce não pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano em que estamos,
sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco
ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está
no meu passado, e não no presente.
Demora um pouco para entender tudo isso; aliás,
como falou o mesmo Guimarães, “não convém fazer escândalo
de começo; só aos poucos é que o escuro é claro”... Mario Sérgio Cortella. Não nascemos prontos! Provocações filosóficas.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2006, p. 11-13 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto
apresentado, julgue os próximos itens.

Apesar do uso de formas masculinas no plural, como
“absortos” (R.22), são utilizados recursos linguísticos para a
marcação da presença feminina no texto.

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Fonte: ANALISTA DE GESTãO - ÁREA: JULGAMENTO / TCE/PE / 2017 / CESPE