Simulado Ministério Público do Estado de São Paulo - MPSP | Analista Jurídico | 2019 pre-edital | Questão 999

Língua Portuguesa / Vícios e figuras de linguagem


O que me moveu, inicialmente, a fazer este texto foi
uma sensação produzida por uma viagem ao Havaí. Sensação
de que se é parte de um cenário. Na praia de Waikiki, os hotéis
têm lobbies que se comunicam, pontuados por belíssimos (mas
falsos) jardins tropicais, sem uma folha no chão, lagos com pei-
xes coloridos, tochas, belos gramados e, evidentemente, muitas
lojas. Um filme de Elvis Presley.
Honolulu é um dos milhares de exemplos a que pode-
mos recorrer. A indústria do turismo cria um mundo fictício de
lazer, onde o espaço se transforma em cenário e, desse modo,
o real é transfigurado para seduzir e fascinar.
O espaço produzido pela indústria do turismo é o pre-
sente sem espessura, sem história, sem identidade. O lugar é,
em sua essência, produção humana, visto que se transforma
na relação entre espaço e sociedade. O sujeito pertence ao lu-
gar como este a ele. A indústria turística produz simulacros de
lugares.
Mas também se produzem modos de apropriação dos
lugares. A indústria do turismo produz um modo de estar em
Nova York, Paris, Roma, Buenos Aires... É evidente que não se
pode dizer que essas cidades sejam simulacros, pois é claro
que não o são; entretanto, o pacote turístico ignora a identidade
do lugar, sua história e modo de vida, banalizando-os.
Os pacotes turísticos tratam o turista como mero con-
sumidor, delimitando o que deve ou não ser visto, além do tem-
po destinado a cada atração, num incessante "veja tudo de-
pressa".
Essa rapidez impede que os olhos desfrutem da pai-
sagem. Passa-se em segundos por séculos de civilização, faz-se
tábula rasa da história de gerações que se inscrevem no tempo e
no espaço. Num autêntico tour de force consentido, pouco es-
paço é destinado à criatividade. Por sua vez, o turista vê sufocar
um desejo que nem se esboçou, o de experimentar.
No fim do caminho, o cansaço; o olhar e os passos me-
didos em tempo produtivo, que aqui se impõe sem que disso as
pessoas se deem conta. Não cabem passos lentos, olhares per-
didos. O lazer produz a mesma rotina massacrante, controlada
e vigiada que o trabalho.
Como indústria, o turismo não parece criar a pers-
pectiva do lazer como possibilidade de superação das aliena-
ções do cotidiano. Só a viagem como descoberta, busca do no-
vo, abre a perspectiva de recomposição do passo do flâneur,
daquele que se perde e que, por isso, observa. Walter Benjamin
lembra que "saber orientar-se em uma cidade não significa
muito. No entanto, perder-se numa cidade, como alguém se
perde numa floresta, requer instrução". (Adaptado de Ana Fani Alessandri Carlos. Disponível em:
http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/turismoproducaona
olugar.html)

É paradoxal a ideia de que

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Fonte: ANALISTA DE SISTEMAS - ADMINISTRADOR DE BANCO DE DADOS / MPE/PB / 2015 / FCC