Simulado Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES | Técnico Administrativo | 2019 pre-edital | Questão 119

Língua Portuguesa / Regência nominal e verbal


O Homem e o Universo
Somos criaturas espirituais num cosmo que só mostra indiferença Algo paradoxal ocorre quando nos deparamos
com nossa “pequenez” perante a Natureza.
Por um lado, vemo-nos como seres especiais,
superiores, capazes de construir tantas coisas, de criar
o belo, de transformar o mundo através da manipulação
de matéria-prima, da pedra bruta ao diamante, da terra
inerte ao monumento cheio de significado, dos elementos
químicos a plásticos, aviões, bolas e pontes. Somos
artesãos, meio como as formigas, que constroem seus
formigueiros aos poucos, trazendo coisas daqui e dali,
erigindo seus abrigos contra as intempéries do mundo.
Por outro lado, vemos nossas obras destruídas
em segundos por cataclismas naturais, prédios que
desabam, cidades submersas por rios e oceanos ou
por cinzas e lava, nossas criações arruinadas em
segundos, feito os formigueiros que são achatados sob
as sandálias de uma criança, causando pânico geral
entre os insetos.
O paradoxo se intensifica mais quando olhamos
para o céu e vemos a escuridão da noite ou o azul vago
do dia, aparentemente estendendo-se ao infinito, uma
casa sem paredes ou teto, sem uma fronteira
demarcada. E se pensamos que cada estrela é um sol,
e que tantas delas têm sua corte de planetas, fica difícil
evitar a questão da nossa existência cósmica, se
estamos aqui por algum motivo, se existem outros
seres como nós – ou talvez muito diferentes – mas que,
por pensar, também se inquietam com essas questões,
buscando significado num cosmo que só mostra indife-
rença.
O que sabemos dos nossos vizinhos cósmicos,
os outros planetas do Sistema Solar, não inspira muito
calor humano. Vemos mundos belíssimos e hostis à vida,
borbulhantes ou frígidos, cobertos por pedras inertes
ou por moléculas que parecem traçar uma trilha
interrompida, que ia a algum lugar mas, no meio do
caminho, esqueceu o seu destino. Só aqui, na Terra, a
trilha seguiu em frente, criou seres de formas diversas
e exuberantes, compromissos entre as exigências
ambientais e a química delicada da vida.
Se continuarmos nossa viagem para longe daqui,
veremos nossa galáxia, soberana, casa de 300 bilhões
de estrelas, número não tão diferente do total de
neurônios no cérebro humano. A pequenez é ainda
maior quando pensamos que a Terra, e mesmo o Sistema
Solar inteiro, não passa de um ponto insignificante
nessa espiral brilhante que se estende por 100 mil
anos-luz. Porém, se o que vemos no Sistema Solar, a
incrível diversidade de seus planetas e luas, é uma
indicação, imagine que surpresas nos esperam em
trilhões de outros mundos, cada um grão de areia numa
praia.
Ao olhar para o Universo, o homem é nada.
Ao olhar para o Universo, o homem é tudo. Esse é o
paradoxo da nossa existência, sermos criaturas espiri-
tuais num mundo que não se presta a questionamentos
profundos, um mundo que segue, resoluto, o seu
curso, que procuramos entender com nossa ciência e,
de forma distinta, com nossa arte.
Talvez esse paradoxo não tenha uma resolução.
Talvez seja melhor que não tenha. Pois é dessa inquie-
tação do ser que criamos significado, conhecimento e
aprendemos a lidar com o mundo e com nós mesmos.
Se respondemos a uma pergunta, devemos estar
prontos a fazer outra. Se nos perdemos na vastidão
do cosmo, se sentimos o peso de sermos as únicas
criaturas a questionar o porquê das coisas, devemos
também celebrar a nossa existência breve. Ao que
parece, somos a consciência cósmica, somos como
o Universo pensa sobre si mesmo. Marcelo Gleiser, Folha de São Paulo, 31 de janeiro de 2010.

O período escrito de acordo com a norma padrão é

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Fonte: PROFISSIONAL JúNIOR - DIREITO / PETROBRAS DISTRIBUIDORA / 2010 / CESGRANRIO