Simulado Defensoria Pública da União - DPU | Analista Técnico Administrativo | 2019 pre-edital | Questão 76

Língua Portuguesa / Significação contextual de palavras e expressões


Rios sem discurso Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda
e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.
O curso de um rio, seu discurso-rio,
chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloquência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate. João Cabral de Melo Neto. Rios sem discurso. In: A educação
pela pedra. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, p. 26.

Julgue os itens a seguir, acerca dos sentidos do texto acima e de
seus aspectos linguísticos.

A prevalência do sentido figurado no texto indica que o autor
fala da própria construção textual sem considerar a realidade
concreta do rio, da água, do poço, da enchente e da seca.

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Fonte: ANALISTA EM GEOCIêNCIAS - ADMINISTRAçãO / CPRM / 2013 / CESPE