Simulado Tribunal Regional do Trabalho - 9ª Região (PR) | Analista Judiciário - Área Judiciária | 2019 pre-edital | Questão 970

Língua Portuguesa / Emprego de tempos e modos verbais


Nasci na Rua Faro, a poucos metros do Bar Joia, e,
muito antes de ir morar no Leblon, o Jardim Botânico foi meu
quintal. Era ali, por suas aleias de areia cor de creme, que eu
caminhava todas as manhãs de mãos dadas com minha avó.
Entrávamos pelo portão principal e seguíamos primeiro pela
aleia imponente que vai dar no chafariz. Depois, íamos passear
à beira do lago, ver as vitórias-régias, subir as escadarias de
pedra, observar o relógio de sol. Mas íamos, sobretudo, catar
mulungu.
Mulungu é uma semente vermelha com a pontinha preta,
bem pequena, menor do que um grão de ervilha. Tem a casca
lisa, encerada, e em contraste com a pontinha preta seu
vermelho é um vermelho vivo, tão vivo que parece quase es-
tranho à natureza. É bonita. Era um verdadeiro prêmio con-
seguir encontrar um mulungu em meio à vegetação, descobrir
de repente a casca vermelha e viva cintilando por entre as lâ-
minas de grama ou no seio úmido de uma bromélia. Lembro
bem com que alegria eu me abaixava e estendia a mão para
tocar o pequeno grão, que por causa da ponta preta tinha uma
aparência que a mim lembrava vagamente um olho.
Disse isso à minha avó e ela riu, comentando que eu era
como meu pai, sempre prestava atenção nos detalhes das
coisas. Acho que já nessa época eu olhava em torno com olhos
mínimos. Mas a grandeza das manhãs se media pela quanti-
dade de mulungus que me restava na palma da mão na hora de
ir para casa. Conseguia às vezes juntar um punhado, outras
vezes apenas dois ou três. E é curioso que nunca tenha sabido
ao certo de onde eles vinham, de que árvore ou arbusto caíam
aquelas sementes vermelhas. Apenas sabíamos que surgiam
no chão ou por entre as folhas e sempre numa determinada re-
gião do Jardim Botânico.
Mas eu jamais seria capaz de reconhecer uma árvore de
mulungu. Um dia, procurei no dicionário e descobri que mulungu
é o mesmo que corticeira e que também é conhecido pelo nome
de flor-de-coral. ''Árvore regular, ornamental, da família das le-
guminosas, originária da Amazônia e de Mato Grosso, de flores
vermelhas, dispostas em racimos multifloros, sendo as semen-
tes do fruto do tamanho de um feijão (mentira!), e vermelhas
com mácula preta (isto, sim)'', dizia.
Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me
lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa. De
algum modo, depois de catadas elas desapareciam e hoje me
pergunto se não era minha avó que as guardava e tornava a
despejá-las nas folhagens todas as manhãs, sempre que não
estávamos olhando, só para que tivéssemos o prazer de en-
contrá-las. O fato é que não me sobrou nenhuma e elas ga-
nharam, talvez por isso, uma aura de magia, uma natureza im-
palpável. Dos mulungus, só me ficou a memória − essa memó-
ria mínima. (Adaptado de: SEIXAS, Heloísa. Semente da Memória. Dispo-
nível em: http://heloisaseixas.com.br)

Atribuindo-se sentido hipotético para o segmento E é
curioso que nunca tenha sabido ao certo de onde eles
vinham...
(3º parágrafo), os verbos devem assumir as seguintes formas:

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Fonte: ANALISTA JUDICIáRIO - ÁREA JUDICIáRIA / TRT 23ª / 2016 / FCC