Simulado Tribunal de Justiça do Estado do Paraná - TJ/PR | Técnico Judiciário | 2019 | Questão 214

Língua Portuguesa / Inferência de sentido de palavras e/ou expressões


Também somos o chumbo das balas Você está na sala assistindo à TV. Ou está no restaurante, com seus amigos. Ou está voltando para casa depois de um dia
de trabalho. Você ouve tiros, você ouve bombas, você ouve gritos. Você olha e vê a polícia militar ocupando o seu bairro, a sua rua.
É difícil enxergar, por causa das bombas de gás lacrimogêneo, o que aumenta o seu medo. Logo, você está sem luz, _______ a
polícia atirou nos transformadores. O garçom que o atendia cai morto com uma bala na cabeça. O adolescente que você conhece
desde pequeno cai morto. Um motorista está dirigindo a sua van e cai ferido por um tiro. Agora você está aterrorizado. Os gritos
soam cada vez mais perto e você ouve a porta da casa do seu vizinho ser arrombada por policiais, que quebram tudo, gritam com
ele e com sua família. Em seguida você vê os policiais saírem arrastando um saco preto. E sabe que é o seu vizinho dentro dele.
_______? Você não pergunta o _______, do contrário será o próximo a ser esculachado, a ter todos os seus bens, duramente
conquistados com trabalho, destruídos. Se você está em casa, não pode sair. Se você está na rua, não pode entrar.
O que você faz?
Nada.
Você não faz nada porque não aconteceu com você. Você não faz nada especialmente porque se sente a salvo, porque sabe
que não apenas não aconteceu, como não acontecerá com você. Não aconteceu e não acontecerá no seu bairro. Isso só acontece
na favela, com os outros, aqueles que trabalham para você em serviços mal remunerados.
Aconteceu na Nova Holanda, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, na segunda-feira passada (24/6). Com a justificativa
de que pessoas se aproveitavam da manifestação que ocorria na Avenida Brasil – o nome sempre tão simbólico – para fazer arrastão,
policiais ocuparam a favela. (...). Saldo final: 10 mortos, entre eles “três moradores inocentes”.
Os brasileiros foram às ruas, algo de profundo mudou nas últimas semanas, tão profundo que levaremos muito tempo para
compreender. Mas algo de ainda mais profundo não mudou. E, se esse algo ainda mais profundo não mudar, nenhuma outra
mudança terá o peso de uma transformação, _______ nenhuma terá sido capaz de superar o fosso de uma sociedade desigual. A
desigualdade que se perpetua no concreto da vida cotidiana começa e persiste na cabeça de cada um.
(...)
Quando a polícia paulista reprimiu com violência os manifestantes de 13 de junho, provocando uma ampliação dos
movimentos de protesto não só em São Paulo, mas em todo o Brasil, houve um choque da classe média porque, dessa vez, muitos
daqueles que foram atingidos por balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo eram seus filhos, irmãos e amigos. Como era
possível que isso acontecesse?
(...)
É preciso que a classe média se olhe no espelho, se existe mesmo o desejo real de mudança. É preciso que se olhe no
espelho para encarar sua alma deformada. E perceber que essa polícia reflete pelo menos uma de suas faces. Parece óbvio, do
contrário essa polícia não seguiria existindo e agindo impunemente, mas às vezes o óbvio é esquecido em nome da conveniência.
(Eliane Brum, Revista Época, 03/07/2013. Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/eliane-brum/noticia/2013/07/tambem-somos-o-
chumbo-das-balasb.html. Acesso em 20 ago. 13).

Assinale a alternativa que apresenta uma expressão com sentido conotativo, ou seja, que sugere sentido que vai além do literal.

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Fonte: ADMINISTRADOR / TJ/PR / 2013 / UFPR