Simulado Tribunal de Justiça do Ceará (TJ/CE) | Técnico Judiciário - Área: Judiciária | 2019 pre-edital | Questão 9

Língua Portuguesa / Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados


Texto 1A2-II Neide nunca tinha pensado naquilo até que,
mexendo um cremezinho de laranja na cozinha, a nutricionista
do programa das dez da manhã falou:
— Ninguém é obrigado a parecer velho.
Tirando a canseira provocada por aquele horror
de exames que o médico tinha pedido, Neide considerou
que, aos sessenta e quatro anos, até que não parecia velha.
Mexeu o creme com mais vigor. A dermatologista deu aparte:
— Alguns estudos afirmam que a velhice começa
aos trinta e seis anos de idade.
Aos trinta e seis anos, ela já era casada havia
doze anos com João Carlos, já era mãe dos gêmeos,
já sustentava a casa e tinha até contratado um auxiliar só para
atender as freguesas que batiam palmas no portão. Aos trinta
e seis anos, João Carlos já havia sido despedido da firma
e já indicava que ia se tornar um deprimido de marca e um
desempregado crônico. O fogão de seis bocas e a campainha
com barulho de sino vieram depois, e seus préstimos
de doceira eram anunciados em uma tabuleta de madeira.
A apresentadora, que já nem era tão mocinha, considerou
que tudo dependia do estado de espírito da pessoa e das
escolhas feitas durante a vida:
— Às vezes, é preciso dizer não.
Neide pensou que falar era fácil e que mais a vida
mandava do que ela escolhia. Na tevê, a palavra era
do geriatra, um homem robusto, de tez bronzeada e cabelos
fartos e grisalhos.
— As pessoas podem continuar sexualmente ativas
até a morte. Literalmente, o amor não tem idade.
Neide sentiu uma tontura, e, de repente, a colher
de pau caiu ao chão com barulho. Foi bem na hora em
que João Carlos entrou na cozinha: estava com sede.
Varreu com os olhos a figura diante de si: o pijama azul
de listras estava tão acabado que nem dava para pano
de chão, e a barriga do marido esgarçava as casas dos dois
últimos botões. A tontura deu uma pequena trégua, o suficiente
para que ela se desgostasse à visão do descaimento. Cíntia Moscovich. Aos sessenta e quatro. In: Essa coisa brilhante
que é a chuva. Rio de Janeiro: Record, 2012 (com adaptações).

Depreende-se do
texto 1A2-II que a personagem Neide, ao assistir
ao programa de tevê,

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