Simulado Tribunal Regional do Trabalho - 13ª Região (PB) | Analista Judiciário - Arquivologia | 2019 pre-edital | Questão 70

Língua Portuguesa / Emprego de tempos e modos verbais


Há um comentário frequentemente encontrado nos meios de comunicação ou mesmo em conversas cotidianas: “O carnaval de
hoje não é mais o mesmo. Transformou-se em um grande empreendimento turístico. Perdeu a autenticidade.” Em seu sentido amplo,
esse comentário aplica-se a diversas modalidades de cultura popular: não só às festas, mas também ao artesanato, à música, à
dança, à culinária. Pode ser expresso na forma de um lamento e de um incontido sentimento de nostalgia.
Em outras palavras, circula de modo amplo e difuso em nosso cotidiano uma perspectiva sobre as culturas populares na qual
estas são apresentadas sob o signo da perda. Supõe-se que elas conheceram em sua longa história um momento no qual teriam
florescido na sua forma mais autêntica e próxima às expectativas daqueles que as produzem. Mas desde então, como consequência
das transformações históricas e em especial da chamada modernização, essas formas socioculturais teriam cada vez mais perdido
seus atributos definidores.
Essa narrativa é seguramente poderosa e tem notável capacidade de convencimento. No entanto, um fantasma ronda os
estudos sobre as culturas populares. Elas não desapareceram; continuam a existir e se reproduzir: festas regionais, como o bumba
meu boi; as festas do Divino Espírito Santo; as festas de Reis; as inúmeras modalidades de música popular ou folclórica produzidas
em diversas regiões do Brasil. Os exemplos podem se estender facilmente. O que importa assinalar, no entanto, é que essas formas
de cultura popular continuam a ser produzidas no tempo presente e de modo criativo; e não parecem indicar, ao contrário do que se
afirma obsessivamente, que estejam em processo de desaparecimento.
O problema evidentemente não está na cultura popular, mas nas perspectivas que postulam sua existência arcaica e seu
inevitável desaparecimento. Trata-se de um fantasma produzido pelos que se recusam a reconhecer que elas expressam visões de
mundo diferentes.
Muitas vezes, essas formas socioculturais estão associadas à oposição entre um mundo rural estável e harmônico e um
mundo urbano industrializado e “inautêntico”. Contudo, pesquisas de antropologia social ou cultural já demonstraram que as culturas
populares, estejam elas situadas no mundo rural ou nas grandes cidades, desempenham funções sociais e simbólicas fundamentais
para sua persistência e reprodução. Desse modo, festas, artesanatos, lendas, formas musicais, dança, culinária articulam sim-
bolicamente concepções coletivas de sociedade.
As culturas populares não se constituem em agregados de traços culturais passíveis de serem inventariados. Elas consistem
efetivamente em sistemas de práticas sociais. Os comentários usuais sobre uma suposta perda de autenticidade das culturas
populares na atualidade esquecem que elas não são o espelho de nossas categorias e classificações; o que elas oferecem de mais
interessante não é nem o testemunho de um passado remoto, nem a catástrofe de seu desaparecimento, mas invenções alternativas
e atuais dos modos de estar no mundo. (Adaptado de: GONÇALVES, José Reginaldo Santos. “Culturas populares: patrimônio e autenticidade”. In: Agenda brasileira: temas de uma
sociedade em mudança. BOTELHO, André e SHWARCZ, Lilia Moritz (org.) São Paulo: Cia das Letras, 2011, p. 136-139)

A frase em que o tempo verbal evidencia uma hipótese está em:

Voltar à pagina de tópicos Próxima

Fonte: TéCNICO DE NíVEL SUPERIOR - ANALISTA DE GESTãO PúBLICA / Pref. Teresina/PI / 2016 / FCC